2 - O EU E O ID

O vínculo entre a percepção externa e o Eu é bem evidente, aquele entre a percepção interna e o Eu requer uma investigação especial. Assim a percepção interna traz sensações de processos vindos das camadas mais diversas, e certamente mais profundas, do aparelho psíquico. Elas são mal conhecidas; as da série prazer desprazer ainda podem ser vistas como o melhor exemplo delas, pois são mais primordiais, mais elementares.

Freud expressa a concepção do Eu, clarificando as relações entre percepção externa e interna e o sistema superficial Pcp-Cs, passando a desenvolver a partir do sistema Pcp, seu núcleo, e inicialmente abarcar o Pcs, que se apoia nos resíduos mnemônicos, sem esquecer a que o Eu é também inconsciente. Assim denomina Eu a entidade que parte do sistema Pcp e é inicialmente pcs, e de Id, segundo o uso de Groddeck, a outra parte da psique, na qual ela prossegue, e que se comporta como ics.

Um indivíduo é então, para nós, um Id [um algo] psíquico, irreconhecido e inconsciente em cuja superfície se acha o Eu, desenvolvido com base no sistema Pcp, seu núcleo. Se buscamos uma representação gráfica, podemos acrescentar que o Eu não envolve inteiramente o Id, mas apenas à medida que o sistema Pcp forma a sua superfície [do Eu], mais ou menos como o “disco germinal” se acha sobre o ovo. O Eu não é nitidamente separado do Id; conflui com este na direção inferior.



É fácil ver que o Eu é a parte do Id modificada pela influência direta do mundo externo, sob mediação do Pcp-Cs, como que um prosseguimento da diferenciação da superfície. Ele também se esforça em fazer valer a influência do mundo externo sobre o Id eos seus propósitos, empenha-se em colocar o princípio da realidade no lugar do princípio do prazer, que vigora irrestritamente no Id. A percepção tem, para o Eu, o papel que no Id cabe ao instinto. O Eu representa o que se pode chamar de razão e circunspecção,em oposição ao Id, que contém as paixões. Tudo isso corresponde a notórias distinções populares, mas deve ser entendido tão só como aproximadamente ou idealmente correto.

Sobre o corpo Freud estabelece que a partir da a gênese do Eu e sua diferenciação do Id. O corpo, principalmente sua superfície, é um lugar do qual podem partir percepções internas e externas simultaneamente. É visto como um outro objeto, mas ao ser tocado produz dois tipos de sensações, um dos quais pode equivaler a uma percepção interna. Já se discutiu bastante, na psicofisiologia, de que maneira o corpo sobressai no mundo da percepção. Também a dor parece ter nisso um papel, e o modo como adquirimos um novo conhecimento de nossos órgãos, nas doenças dolorosas, é talvez um modelo para a forma como chegamos à ideia de nosso corpo. Sendo assim, o O Eu é sobretudo corporal, não é apenas uma entidade superficial, mas ele mesmo a projeção de uma superfície. “Não só as coisas mais fundas do Eu, também as mais altas podem ser inconscientes”. É como se nos fosse demonstrado, dessa maneira, o que já afirmamos sobre o Eu consciente: que ele é sobretudo um Eu do corpo.

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Introdução
1 - Consciente e inconsciente 
3 - O EU E O SUPER-EU (IDEAL DO EU)